28 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 19

Nestor gastava noites usando os recursos de invisibilidade e infiltração nos locais onde as figuras listadas iam. Era cansativo e aparentemente não aparecia nenhum sinal de “Custer” e dos senhores da morte. Até que uma noite......


Por meio dos jornais Nestor soube que a filósofa e colunista Laura Calisto daria uma festa em comemoração ao lançamento do seu novo livro, no hotel Laurenti. Laura escrevia sem medo contra os senhores da morte e com certeza estaria na lista de vítimas deles. Nestor sabia que eles não atacariam na festa propriamente, mas bem depois dela. Como era executivo de uma editora grande não foi difícil conseguir um convite. O que ele teria que observar bem era as figuras convidadas, pois qualquer uma poderia ser um dos senhores da morte ou um informante deles.

Nestor detestava festas grandes, pois eram cheias de pessoas ricas, famosas e fúteis. Por mais diplomacia que utilizasse, estava focado em qualquer detalhe que acontecesse. De todas as pessoas fúteis e levianas que estavam ali dançando, conversando ou “bebinhas da Silva”, observou um sujeito um tanto excêntrico. Magro, estatura média (por volta de 1,70cm) smoking, cabelos encaracolados grisalhos e de cavanhaque (não era o José Mayer), aparentava uns cinqüenta anos e tinha um olhar seco e observador, do qual não se desprendia de Laura. Começou a fitar Nestor. Nestor já suspeitava de algo. Decidiu abordá-lo de forma amigável, quando se sentiu “trombado” por algo nas suas costas. Era uma das fotógrafas presentes na festa. Era de estatura média, por volta de uns 30 e poucos anos, morena, olhos castanhos grandes. Com um ar meio sem graça disse ela:

- Desculpe senhor! Estava tão focada em fotografar os momentos da festa que eu não percebi.

Como se desconcentrou e perdeu de vista o seu suposto suspeito, Nestor se irritou e disse:

- Primeira coisa: você sabe a minha idade para me chamar de senhor? Se bobear você deve ser bem mais velha do que eu!

A fotógrafa, até então sem graça, mudou o semblante e falou:

- Moço como você é grosso! Parece um velho amigo meu!

- Há pronto! Uma sentimental de plantão! Olha aqui, eu estava muito centrado em algo, quando você cruzou o meu caminho e....

- E o quê? Não foi intencional!

- Certo! Judas não tinha intenção de trair Jesus, apenas queria que o povo lutasse! Hittler queria uma sociedade de raça pura...enfim, de boa intenção o inferno está cheio minha cara!!

- Olha, você é tão ranzinza quanto era o meu amigo! Se eu fosse espírita, diria que ele se reencarnou em você!

- Por que? Ele morreu?

- Sim....ele tinha úlcera. Não quis saber de tratar. Pouco tempo depois teve um ataque do coração! Há uns 5 anos. Infelizmente.

- Bom, sinto muito. Desculpe se fui indelicado, mas não é tanto uma questão de índole. Há pouco voltei ao Brasil e esta história dos senhores da morte me intriga..

- Sei....dois amigos meus e eu estamos tentando tirar fotos deles, mas...

- Mas nada! Desculpe, mas pode me dar o seu telefone e e-mail?

- Claro! Passe-me os seus também.

- Sim. Aliás, você é free-lancer ou trabalha para alguma revista?

- As duas coisas!


- Qual o seu nome moço?

- Nestor Alcântara. Executivo da editora Anamnese e o seu?

-Débora Carvalho.

- Prazer. Manterei contato sobre os senhores da morte, ok?
- Ok. Até.


Após se despedir da fotógrafa, voltou a sua atenção para a misteriosa figura. Sondou em vários locais, mas nada. Decidiu procurá-lo na varanda. Nada. Foi até a piscina e nada.

Nestor já tinha estava a ponto de desistir da busca do provável suspeito, quando o viu indo rumo ao elevador. Como o homem não tinha percebido a sua presença, Nestor usou o seu recurso de invisibilidade. Segui-o com sossego. O homem chegou até o 10 º andar e entrou num quarto, usou o telefone, passando o seguinte recado:

- A colunista bocuda está hospedada no 123. Amanhã ela irá para o Rio de Janeiro. Já sabem como proceder!

Como Nestor não estava trajado para agir como o Máscara das Sombras, usou um outro recurso. Como entrou no quarto com técnica de invisibilidade, utilizou uma técnica de ataque aos pontos vitais para atacar o dito cujo. Após a aplicação, levou-o ao seu apartamento, deixando amarrado na cadeira. Já vestido como alter ego, esperava o suspeito acordar. Este, quando acordou, assustou-se com a figura a sua frente. O Máscara das Sombras, numa voz assustadora e imponente disse:

- Quem é você e para quem trabalha?
- Sou Danilo Viçosa. Sou um...jornalista!

Irritado, o Máscara das Sombras chutou-lhe a boca. Insistiu:

- Fale a verdade!
- Sou jornalista
- Para quem você ligou do hotel?
- Pra ninguém!! Me solta!!!
- Rsrsrrs, ninguém vai te escutar!!
Irado, o Máscara das Sombras usou uma arma que comprou na Europa: um equipamento de dar choques! Aplicou de leve em sua vítima. Esta começou a urinar nas calças e a chorar!

- Eu não...não...
- Não o que?
- Não tenho nada com os Senhores da Morte. Só...
- Pare de enrolar!!! Disse o Máscara das Sombras, dando mais um choque em Danilo.
- Eu...eu...devo fa,favores a eles!!
- Certo. Eles vão atacar que horas?
- 0hs.
- Vou para o hotel, depois conversamos.

E deu um soco, fazendo Danilo desmaiar.

25 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 18

O seu retorno ao país não foi nada empolgante, uma vez que tinha más recordações do Brasil, além da perda de Sayuri. Fazia dois anos que ela tinha morrido e era algo que Nestor não conseguia superar. Pensava na forma que se vingaria dos seus assassinos, só que teria de planejar muito bem, tratando-se de uma organização criminosa, além de inventar uma boa desculpa para voltar a Europa ou ir ao Japão.

Ao chegar na empresa, Nestor foi recebido com uma festinha surpresa tradicional de empresa: salgadinhos, bebidas e gente falsa ao redor. Era algo insuportável, mas que tinha de estar. Primeiro foi o discurso do presidente da filial. De tão empolgante, Nestor cochilou. Depois comes e bebes, um bando de falsos iam conversar com Nestor, fazendo-se de amigos, dentre eles, Gabriel, um antigo desafeto de Nestor. Este, com um sorriso estampado, disse:

- Meu caro, quanto tempo? Você está muito bem!

Numa risada irônica, Nestor respondeu:

- Sim, claro! Ao contrário de você! Não pense que eu tenho memória curta seu falso de merda!

- Nestor...águas passadas. Eu....

-Não me venha com discurso de redenção Gabriel! Não me venha puxar o tapete!

Sem graça, Gabriel baixou o olhar e deu meia volta. Surgiu outra figura: Karen, antigo affair de Nestor, agora, Gerente do departamento comercial e mais bela do que nunca. Sorridente, abraça-o e diz:

- Quanto tempo Nestor! Você está......
- Já sei! Tão bem! Como você está bonito! Frase de efeito não Karen?

- Nossa Nestor! Achei que a Europa tinha te feito bem!

- Sim, a Europa e o Japão me fizeram muito bem! A droga foi voltar para esta porcaria de país, junto de um bando de gente falsa e sangue-suga!

- Você não superou aquilo....


- Aquilo o quê? O não que você me deu no cinema! Águas passadas! Ganhei um tesouro muito melhor que se chamava Sayuri! Eu....

- Que se chamava?

-Sim. Ela morreu há dois anos numa explosão de um trem bala no Japão...

- Eu li Nestor! Foi algo da Yakuza...

- Sim

- Me desculpe.

- Você não tem culpa. Se me dá licença...


E foi para a sua nova sala trabalhar.

Nem tudo era de mal para Nestor. Na hora do almoço, desfrutou de um belo comercial com bife e fritas, além de um belo suco de limão, matando saudades da bela comida brasileira. Visitou os pais e alugou um apartamento na paulista, até se estabilizar.

De noite Nestor testou suas habilidades oficialmente como o “Máscara das Sombras”. Na mesma noite impediu dois roubos, um assalto e duas tentativas de seqüestros relâmpagos. Nestor não previa crimes, seguia o instinto e ia para os pontos mais cruciais e movimentados de São Paulo. O legal das habilidades treinadas era de atacar nas sombras sem ser visto, deixando o medo nos assaltantes com sua voz medonha e os olhos brilhantes da máscara.

No dia seguinte, tomando café na padaria, lê o jornal. Viu que as suas ações saíram numa coluna pequena com o seguinte relato: “ Paranóico, assaltante disse que o demônio apareceu para puni-lo e deixou-o na delegacia!” Ficou impressionado com o poder adquirido ao longo dos anos. Só que na página principal do jornal, algo maior o impressionou: “Mais um ex-deputado é achado morto e desfigurado com a assinatura dos Senhores da Morte”.

Mastigando o pão na chapa, ao cheiro de pingado, Nestor percebia um novo desafio e pensava:
“ Quem são e como agem os Senhores da Morte?”

Depois de um dia exaustivo como executivo, Nestor chega em casa e para tirar o stress, treinou um pouco de meditação, esgrima e alongamento. Após um bom banho, entrou na web para investigar sobre os senhores da morte, uma vez que estava pouco situado deles. Após muita procura, descobriu algo mais detalhado num site de um jornal policial. Tratava-se de um recado dos Senhores da Morte, deixado dentro da boca de uma das vítimas. Segue o que dizia:

Saudações cidadãos hipócritas e politicamente corretos!

Como percebem, mais um corrupto foi transferido para o inferno! O deputado Carlos Antonello, envolvido em vários esquemas de fraudes, teve a sua paga! Se a justiça é injusta, nós reavivamos o seu verdadeiro critério: justeza, equilíbrio. Para uma sociedade melhorar, precisa-se equilibrar e para isso, temos que melhorar as estruturas. O sr. Carlos foi uma pequena mostra daquilo que faremos em São Paulo e no resto do Brasil: justiça!

Como ele era cheio da grana, sabíamos que morava em Alphaville. Logo foi muito fácil entrar de noite, matar os seguranças, além de torturarmos sua esposa, filhos e brincarmos com a sua secretária! Matá-lo não foi difícil, porque o negócio com pessoas desta laia é torturá-la e humilhá-la. Matá-la é conseqüência! Não nego que foi divertido arranhar cada parte do corpo dele e deixá-lo sangrando e sofrendo lentamente! Meus companheiros de missão que o digam!

Nós somos a resposta de uma mudança, o desejo de uma sociedade melhor. Se tivermos que usar dos métodos que aplicamos nele, assim o faremos. Por isso que somos “Os Senhores da Morte”. Até a próxima vítima!


Cordialmente, General Custer


“General Custer! Que esperteza e ironia usar o nome de um lendário general americano que matou muitos índios! Eles não devem ser ignorantes! Devem ser pessoas estudadas e idealistas! Preciso apenas uma forma de descobri-los!” Pensava Nestor consigo. Decidiu listar todos os políticos e pessoas envolvidas nos escândalos dos últimos anos e acompanhá-los da melhor forma possível.

22 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 17

Com a roupa e os acessórios prontos, além dos detalhes eletrônicos como a voz alterada na máscara e os olhos vermelhos brilhantes, Nestor começou a realizar uns testes por Londres. Não tinha como prever os crimes, apenas que andava pelas sombras com as técnicas de invisibilidade e infiltração aprendidas no ninjutsu. Andava pelos guetos e pontos bem assombrosos da cidade.

Os primeiros meses foram de testes minuciosos, para saber como proceder. Depois, Nestor pôs o plano em ação: além de andar nas sombras, começou a atacar. Impediu três tentativas de estupros, deixando os bandidos ao serviço da polícia. Os jornais e a polícia questionavam que seria o “Santo Justiceiro”, mas nada se encontravam. Numa ocasião, próximo de uma boate, um jovem casal era atacado por uma gangue. Estavam roubando e abusando do casal, escuta-se uma voz assustadora vinda do escuro:

- Parem! O que acham que estão fazendo?

Todos ficaram surpresos, questionando quem seria.

- Deixem eles em paz ou sofrerão as conseqüências!

A gangue morreu de dar risada, achando que fosse uma brincadeira, quando de repente....da sombra começa a surgir fumaça em excesso, um gás tranqüilizante, deixando todos desmaiados. Com isso, Nestor deixa o casal num local visível e os bandidos amarrados no teto da boate, causando um susto geral a todos!

As manchetes mostravam o espanto das misteriosas ações de justiça. A polícia estava intrigada. Maximus e Jacqueline ficaram espantados com o que Nestor fazia. Um dia, Nestor reuniu-os para dizer:

-O meu tempo se acabou aqui. A empresa quer que eu volte para o Brasil!

-Mas Nestor, como podemos continuar com a sua missão aqui? Perguntou Maximus.

- Primeiro, tem que treinar muito. O meu cunhado está fazendo especialização aqui em Londres e poderá ajudá-lo. Tome o telefone e o e-mail dele.

Intrigada, Jacqueline questiona:

- Nestor, você não está indo longe demais com esta história de herói? Você pode morrer!

De forma fria, diz Nestor:

- Jacqueline, na explosão do trem bala de Kyoto, eu perdi tudo o que eu tinha de melhor na vida. Portanto, não tenho mais nada para perder!

Após a conversa, Maximus levou Nestor ao aeroporto.

17 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 16

Maximus Calegari tinha estudado engenharia robótica em Cambridge. Conhecia Nestor das aulas de boxe. Era nerd de carteirinha, sendo constante alvo de chacotas e violências físicas. Durante um tempo, uma turminha de grandalhões vivia batendo nele depois das aulas, além de roubá-lo e humilhá-lo constantemente. Houve um dia que fizeram Maximus ficar sem roupas, com o rosto cheio de mostarda diante de todos na quadra. Maximus estava deprimido com a situação. Nestor de longe, acompanhava os acontecimentos, estudando minuciosamente o que poderia ser feito.

Nesta época , Nestor estava no 3º ano de faculdade. Ele estudou cada passo da gangue, liderada por Kopleston, um britânico metido a galã que se impunha com os lacaios. Só que Nestor sabia onde se reuniam, onde morava cada um e até os armários de cada um na faculdade. Nestor tinha a faca e o queijo na mão para ajudar Maximus.

Numa noite, Kopleston voltava de uma festa com sua namorada. Estavam no carro em frente a casa dela. Nestor estava ali próximo. Ele pôs uma máscara para se passar de assaltante. Aborda-os e entra no carro. Nestor estava armado com uma arma de dar choques. Levou-os para próximo da faculdade e faz eles saírem do carro. Disfarçando numa voz assustadora, Nestor manda eles tirarem a roupa e manda Kopleston e sua namorada ficarem de quatro no pátio. Ele repreende a Kopleston pelas maldades feitas aos alunos de Cambridge. Kopleston nada diz, pois treme de medo com aquela misteriosa figura. Pede perdão ao que fez, mas Nestor diz que isto não basta e aplica o choque nos dois. Ficam desmaiados. No dia seguinte, vivos e amarrados no jardim central do local, todos ficaram impressionados com o acontecimento e perguntavam quem foi o “justiceiro”.

Kopleston foi o primeiro da gangue. Os demais foram humilhados de outras maneiras por Nestor. Claro que ele fazia as coisas sob disfarce. A gangue nunca conseguiu descobrir quem era a figura justiceira. Por temor a novas represálias, Kopleston mudou de faculdade. Alguns deixaram Cambridge e outros ficaram no próprio canto. Maximus ficou curioso. Um dia ao abrir o armário, ele se surpreende com um recado digitado:

Caro Calegari:

"Como você, eu também sofri muitas humilhações por pessoas vazias como Kopleston. Eu aprendi a canalizar forças com o tempo. Quem sabe um dia eu te ensino como. Você está curioso não? Quer retribuir? Aguarde, um dia eu te encontrarei. Um abraço".

Sem saber, Maximus fez amizade com o justiceiro. Além das aulas de boxe, faziam parte do clube de xadrez e do clube de cinema da Universidade. E passaram-se os anos. Agora, Maximus era um respeitado engenheiro robótico da Kia Motors de Londres. Era casado e tinha um filho.

Nestor foi a sua casa. Maximus fica surpreso com a visita. Era por volta 23hs. Sua esposa e seu filho estavam dormindo. Maximus disse:

- Há quanto tempo Nestor! Pensei que tivesse voltado ao Brasil. Antes de mais nada, sinto por Sayuri! Vocês iam casar. A morte é uma passagem dura, mas você superará! Tenha certeza.

- Bom....Sayuri morreu e boa parte de mim também. Agora quero fazer o que muito pouco fiz pelas pessoas....justiça!

- Nestor se acalme! Se a lei não fizer a justiça, Deus fará! Temos que....

- Não me venha falar deste cara Maximus! Ele e o diabo são os jogadores, o mundo é o tabuleiro e nós somos peças! Por que Deus me tirou alguém que me fazia tão feliz? Não quero saber de respostas religiosas, mas quero que algo seja feito, não apenas por Sayuri, mas por todos aqueles que sofrem e não tem como se proteger!

- Mas como posso te ajudar?


-Você pode me construir uma máscara de ferro como neste modelo desenhado? Além disso quero que os olhos brilhem como um rubi. Preciso que você me crie antebraços de aço, uma espécie de colete a prova de balas e dentro da máscara uma estrutura eletrônica para a voz! Que me diz?

- Você só pode estar louco! Acha que vai salvar o mundo com a revolta no seu interior? Eu...

- Escute amigo, você me deve!


- Bom, você me levou para a igreja, foi amigo em muitos momentos, me arranjou a primeira namorada....

- Não estou falando disso! Quem te vingou? Quem humilhou a Kopleston e sua gangue sem deixar vestígios?


- Foi,foi....você?

- Como dizia uma professora minha: Parabéns!
-Mas como?

-Oras! Eu estive próximo de ti nestes momentos. Observei e estudei os passos de cada um, para pegar um por um. Como você acha que eu nocauteei o Melvin “Pitbull” ou deixei Kopleston nu no meio do pátio? Como você acha que Charlie se converteu a Deus do nada? Hum....eu os induzi, os ameacei e utilizei dos meus instintos!

- Mas como você fez? Em....todo o caso muito obrigado!

-De nada Calegari. Por isso que eu preciso que você me auxilie, para que não surjam novos Koplestons na vida de pessoas como nós.

Nisto, Maximus suspirou e disse:

- Tudo bem. Para quando você precisa?

- O quanto antes!

- Ok. Quer tomar um cappuccino no velho café 24 horas?

- Sim, Maximus. Eu pago!


E botaram outros assuntos em dia ao ar de um bom cappuccino!

13 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 15

Nestor voltou para a Inglaterra. Trabalhou em Londres por mais dois anos e depois voltou ao Brasil. Mesmo com o falecimento de Sayuri, Nestor continuou a visitar a família dela nas suas férias, além de visitar Katsumoto. Além de artes marciais, Nestor começou a praticar alpinismo e Parkour, arte francesa de saltos e acrobacias.

Por mais normal que tivesse sido a vida de Nestor nos últimos anos, ele não se esqueceu daquilo que ele tinha que ser: o Máscara das Sombras. Era hora de entrar em ação, pois tinha uma boa base para começar. Lembrando-se da visão, Nestor “desenhou” a roupa e levou a Jacqueline Monfort, uma estilista francesa residente em Londres. Uma bela loira de 30 anos, esteve metida com drogas e jogos. Ela estava na mão de agiotas perigosos. Nestor salvou-a deles. Num primeiro momento, ele pagou as dividas dela. Depois denunciou a organização para a Scotland Yard. Ela, num total agradecimento, disse que quando Nestor precisasse, faria qualquer coisa por ele. Pois é, Nestor tinha boa memória!

Numa tarde, Jacqueline visitou Nestor. Jantaram em um restaurante no centro de Londres. Colocaram a prosa em dia. Jacqueline deu os pêsames por Sayuri. Nestor agradeceu. Fez um tempo de silêncio, para segurar o choro e disse:

- Bom Jacqueline, lembro-me que você faria qualquer coisa em agradecimento a minha ajuda. Pois bem, tenho algo a lhe pedir. Preciso das tuas habilidades como estilista. Quero que me faça um determinado tipo de roupa. Ela é escura, com capuz, grande, como se fosse uma vestimenta de monge da idade média. Pago o preço necessário.


Intrigada, Jacqueline questiona:

- Mas para que este tipo de roupa Nestor? Não me parece que você quer ir a uma festa a fantasia!

De cabeça baixa, ele diz:

- Quero para fazer aquilo que fiz por ti e por outros: justiça! Estou farto desta época tempestuosa, indiferente, hipócrita e fria que vivemos! Nada pude fazer diante as muitas humilhações que sofri! Nada pude fazer sobre a morte de Sayuri! Mas as pessoas que não podem se defender em alguma hipótese, eu farei o que estiver ao meu alcance! Entende?

- Nestor! Isso que você diz é loucura! Você está no mundo real e não num filme do Batman! Você é de carne, você é real!

- Por isso. Estamos no mundo real. Realmente este mundo está uma droga e algo precisa ser feito. Evidentemente eu não sou Jesus Cristo para salvar o gênero humano, mas alguma coisa eu posso contribuir para que as pessoas mudem.

- Nestor você só pode ter perdido a razão. Você pode morrer numa dessas atitudes heróicas! Não faça isso!

- Olhe Jacqueline, quando estava no mosteiro, eu temia a morte, devido a concepção cristã católica do inferno. Quando conheci Sayuri, ela preencheu o vazio que eu tinha. Deu-me alegria, crescimento como ser humano. Éramos parte um do outro e quando ela morreu, parte de mim foi embora. Portanto, não tenho mais nada a perder! O melhor de mim já morreu e isto é o que sobrou! E outra coisa: você disse que faria qualquer coisa!

Nisto, Jacqueline respira fundo e diz:

- Está bem! Ainda que eu discorde da sua loucura, eu farei levando em conta a nossa amizade e ao que você fez por mim há mais de um ano! Mas cuidado Nestor!

- Fico agradecido.


Conversaram mais um pouco. Nestor despediu-se e foi visitar outro amigo.

08 novembro, 2009

Máscara das Sombras – Parte 14

Passaram quatro anos de estudos, treinamentos e de namoro. Nestor se preocupou em aprender a viver. Sentia-se um homem novo, completamente o oposto daquele que deixou o Brasil. No dia da formatura Nestor pediu Sayuri em casamento. Ela aceitou e festejaram com muita alegria. Suas famílias também. Tudo corria bem para Nestor: formado em uma boa instituição, bem empregado e rumo ao altar com uma mulher especial.
O que é bom, dura pouco. Para Nestor, até que durou bastante! De férias no Japão para os preparativos do casório, algo terrível aconteceu: Sayuri morreu. Como? Ela foi de trem a Tóquio para ver o vestido e quando retornava para Kyoto, o trem explodiu em movimento! A notícia abalou o mundo, mas em especial a família Okayda, amigos e a Nestor. Procuraram o corpo, mas nenhum sinal. Procuraram na lista de sobreviventes e nada. Tentaram procurar por todos os lados. Sua morte era certa. No funeral, além da família e dos parentes, estavam os pais de Nestor. Ficaram ao lado dele o tempo todo, chorando com o filho. Sayuri fez parte dele. Logo, uma parte dele se foi.
Passado os dias, a CNN publicou a possibilidade criminal do evento e dentre os suspeitos estariam as duas maiores organizações criminosas mundiais: Yakuza (máfia Japonesa), Tríade (de Hong Kong). Eram os indícios que as investigações da interpol apresentavam. De tristeza, o sentimento de revolta se apoderou de Nestor, Myamoto (irmão de Sayuri) e Midore (filha de Katsumoto e amiga de Sayuri). Eles queriam vingança, mas Katsumoto os advertiu seriamente, dizendo:
- Vocês querem honrar a memória de Sayuri com este espírito? Oras! Vocês pensam que estão aonde? Num filme do Quentin Tarantino? Bem vindos a vida real! Não sejam tão amadores de invadir a sede de uma destas organizações! Senão terminarem mortos, vocês morrerão atrás das grades!

Todos ficaram de cabeça baixa. Katsumoto prosseguiu:

- Eu ensino artes marciais para o bem da mente, do espírito e do corpo. Defesa em último dos casos! Defesa e não vingança!! A questão não é a vergonha para mim, para as artes marciais ou para a alma de Sayuri, mas para vocês! Sei que é um momento de sofrimento, de perda....eu estou convosco! Mas não treinamos tanto para agirmos como animais! Usem a mente e o coração.

Todos continuavam de cabeça baixa, chorando. Nestor tinha um duplo pensamento consigo. Lembrava-se do personagem Chaves que dizia: “A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena!” Pensava por outro lado: “ Tudo ao seu tempo e eu hei de fazer algo”.

Nestor continuou treinando com Katsumoto no restante das férias. O treino era bastante árduo, uma vez que Nestor estava prestes a receber a faixa preta de ninjutsu, um alto grau na hierarquia de aprendizado nas artes marciais. No fim das férias recebeu o título de ninja. Na cerimônia, katsumoto pediu a Nestor que honrasse os ensinamentos da arte e lembrasse sempre de Sayuri no coração, além de ter uma boa conduta e utilizar a arte para o bem.

02 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 13

Sayuri apresentou Nestor aos seus pais: Minoru e Shinobu. Minoru era empresário no ramo de alimentos na região. Shinobu, além de cuidar da casa e dos filhos, era artista plástica. Só que um detalhe: Shinobu era faixa preta (3ºgrau) de Karatê, além de praticar Kendô (arte da espada samurai) e Hapkido coreano. Dava aulas de luta para crianças numa escola especial. Daí que Sayuri herdou o talento e gosto para a coisa.

Nestor conheceu os três irmãos de Sayuri. Myamoto era o mais velho. Estudava engenharia em Tóquio, falava fluentemente inglês e francês, além de ser campeão de Karatê da região. Gunko vinha depois de Sayuri. Tinha 17 anos, estudava na escola técnica de Kyoto, namoradeira e tocava guitarra numa banda de Rock. Depois de Gunko vinha Gobei de 10 anos. Pequeno, mas danado que só. Hiperativo, não parava um instante, além de ser observador.

Após as apresentações, Nestor se dirigiu a família de Sayuri apresentando-se como namorado dela (claro que Sayuri traduzia, pois ele não falava nada de japonês). Todos ficaram surpresos, pois Sayuri nunca foi de correr atrás de homens. Com a tradução de Myamoto, Minoru dirigiu-se a Nestor. Num tom calmo, mas firme perguntou a Nestor tudo o que é de costume: as intenções dele, o que ele estudava, de onde era etc. Nestor contou a Minoru e a família de Sayuri como eles se conheceram, a amizade que se formou antes do interesse amoroso, além do treinamento com katsumoto em Tóquio. Myamoto observava Nestor e prosseguiu com a tradução da frase final do patricarca:

- Caro Nestor. Em nome da família Okayda, damos as boas vindas a você. Aceitamos o seu namoro com Sayuri. Pedimos que mantenha a reta intenção na proposta de namoro transmitida. Seja valoroso e respeite-a. Pedimos a ela o mesmo. Em nome de Minoru Okayda e família, desejamos êxito em seus projetos!

Todos da família fizeram a típica saudação japonesa de inclinar a cabeça. Após a conversa, Myamoto, antes formal e sério, mudou a fisionomia e cumprimentou Nestor com aqueles “toques de manos” e disse: “Bem vindo cara! Você vai curtir muito aqui!” Nestor sorriu e agradeceu a hospitalidade de Myamoto e da sua família. Sayuri exultava de alegria por aquele momento mágico. Foram ao restaurante e depois a uma apresentação musical da cidade.

Através das traduções de Myamoto e Sayuri, Nestor conversou muito com a família sobre o Brasil, a família dele, a trajetória dele até Cambridge, além das tradições e hábitos das regiões do Brasil. Depois, voltaram a casa. Na varanda, junto de Sayuri, Nestor contemplava o belo luar e puseram-se a beijar.

Durante as férias, Nestor conheceu um pouco do Japão e aprendeu um pouco dos conhecimentos da arte ninja. Para dar continuidade na Inglaterra, katsumoto confiou a Sayuri no treinamento de Nestor. Os anos seguintes procederam da mesma forma: aulas, namoro e treinamento com a sayuri, visita aos pais dela, treinamento com Katsumoto.

Nos anos de estadia no estrangeiro, Nestor foi ao Brasil apenas duas vezes. Uma para dar satisfação a empresa sobre os estudos e outra para apresentar Sayuri aos pais e leva-la para conhecer um pouco do Brasil. Locais como São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro. Além disso, fez questão de levar Sayuri para comer o pastel de feira e ir numa churrascaria. Nesta segunda vinda ao Brasil, Nestor e Sayuri usaram dos seus dotes para escapar de mimados chapados de uma danceteria, além de Sayuri ter dado umas pancadas em um trombadinha que tentou roubá-los. O próprio Nestor continuava a se surpreender com a sua namorada.

01 novembro, 2009

Máscara das Sombras - Parte 12

Dentro do trem, Sayuri mostrava algumas paisagens a Nestor. Iam conversando de vários assuntos. Nestor fez uma observação:

- Sabe Sayuri, conhecer a paisagem é algo magnífico, porque abre os horizontes da imaginação, da harmonia e de tantas outras coisas que ficam no oculto do pensamento. Não me esqueço o dia que te conheci: foi um colírio para os meus olhos! Desde aquele dia, fiz coisas que nunca tinha feito antes. Ri, chorei, diverti, passeei etc. Enfim, tantas dimensões da minha vida que ficaram ocultadas pelo medo e o fracasso se deram naquele dia tão magnífico: dia que nos trombamos no corredor!

Ao ouvir as palavras de Nestor, os olhos de Sayuri começaram a lacrimejar de emoção. Nisto, Nestor pegou suavemente a sua mão. Sayuri aproximou o seu rosto ao dele e se colocou a beijá-lo de maneira suave. Nestor, sujeito seco e até então solitário, começou a chorar. Ele ia falar algo, mas Sayuri colocou a mão na boca de Nestor e disse:

- Meu querido Nestorzinho, cala a boquinha! Suas palavras foram bonitas! Só que mais linda do que elas, foi este belo beijo, como sinal de nossos sentimentos! Ter trombado contigo foi bom. Melhor que isso, foi o dia que lutei contigo e estes dias de treinamento com Sensei Katsumoto. Você é nobre. Muitas vezes é um tanto seco e duro, mas momentos como este, mostram o grande e apaixonado coração que você tem!

Sayuri estava empolgada em falar, mas foi a vez de Nestor Colocar a mão na boca dela e dizer:

- Fique quietinha Sayuri! Continuemos esta ação tão simples e magnífica.

E continuaram a se beijar. Ao término da viagem, desceram e no ponto de táxi, Sayuri pergunta a Nestor:

- Mas meu querido...e agora? Como te apresento a minha família?

- Oras! Como seu namorado!

Nisto, Nestor pega nas mãos de Sayuri e diz:

- Sayuri Okayda, quer namorar comigo?

- Sim! Meu querido..sim, sim!

E continuaram a se beijar até a chegada do táxi.

Máscara das Sombras - Parte 11

Na semana seguinte, Nestor começou a praticar o ninjutsu (arte ninja). Como sua estadia era temporária, o treinamento era mais puxado: 10hs por dia, com intervalos para refeições, necessidades fisiológicas, além de 30 minutos de cochilo a tarde. Fora isso, o negócio era pauleira. Flexões, abdominais, levantamento de peso, corrida, alongamento, treinos de chutes e socos. Era puxado!

Como Nestor já praticava outras modalidades na faculdade, o corpo estava até que condicionado. O problema foi no treino de kumitê (luta). Katsumoto colocou um aluno que treinava há 6 meses de forma intensa. Não deu outra: Nestor levou um coro. Não desistia e continuava a lutar com este rapaz que a o final do treino, sempre iam tomar sorvete no parque. No fim da primeira semana, Nestor sentia-se um “condor”, com dor na coluna, com dor na perna, nos braços etc.

As semanas seguintes foram mais puxadas. De tanto que treinava todas as modalidades das aulas, Nestor estava com hematomas. Um dia, levou um soco e saiu sangue do nariz. Para sua sorte, Sayuri estava no treino. Tratando das feridas, disse ela num tom de voz bem doce:

- Continue assim meu querido Nestorzinho. Você tem talento.

Nisto, a cabeça de Nestor foi longe não tanto pelo elogio as habilidades, mas ao “querido Nestorzinho”. Pensava consigo: “Tô dando dentro!”

Após um mês de treinamento puxado. Nestor tinha progredido bem (claro! 10hs por dia!). Não que estivesse no desempenho de um Bruce Lee, mas pensava consigo: “ Posso dar um coro naquele idiota da aula de literatura que só faz pergunta cretina! He, He”. Claro que era de brincadeira este pensamento. Depois de se despedirem de Katsumoto e Midore, foram até a estação de trem, para irem a Kyoto, cidade natal de Sayuri.